sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Naufraguei.


Algum lugar do oceano, lua cheia de um mês frio como Outono, de alguns anos depois de 1992.

Prezado amigo,

naufraguei.

E parei de contar o tempo depois do segundo dezembro, hoje já nem sei. Quem vos escreve é um velho poeta, que de poeta não tem nada e de velho, menos ainda. Já não sei mais escrever, mas de dezembro a dezembro deixei a porta aberta pra qualquer um entrar e ler.

Lembro um pouco de certa história que penso ter passado, mas não lembro meu nome, e é deserto de gente por aqui, dentro desse meu coração. Só tem bicho macaco-camaleão. Tenho uma garrafa vazia de rum, não é minha, é de outro algum que (quase por querer) também quis naufragar. Tenho vivido de lembranças e morrido da esperança de alguém me encontrar.

Como todo pirata destemido, saí em busca de tesouro, mas como poeta despercebido, despercebi que o tesouro era outro.

Trouxe memória e punhal para o caminho da perdição, e não me conformo: como pude me perder?

Dou-lhe um aviso, caro amigo... Essa nossa mente, mente, trai e naufraga um mar e meio. Não deixa as mágoas pra traz e atrasa a gente, nunca mais se fica em paz, não se fica inteiro.

Foi tão difícil decifrar o labirinto que era o mapa da palma daquela mão que me traz calma e que me engana de tanto fazer rir e ir e vir que me cansa que me dói e faz tão bem e faz tão mal.

Naufraguei.



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